(ANS – Roma) – “O ‘Da mihi animas’ de Dom Bosco foi o motor e a base de todas as empresas que pôde  realizar Dom Cagliero: (...) Hoje o empenho pelo desenvolvimento das populações poder-se-ia atualizar no Vicariato. (...) Um Salesiano Bispo pode sim manter sua união com o coração de Dom Bosco!”. Estas algumas das reflexões de Dom Gabriel Escobar SDB, Bispo do Vicariato Apostólico do Chaco Paraguaio, numa entrevista feita com o objetivo de preparar o Encontro dos Bispos salesianos nos Lugares Santos de Dom Bosco (Turim, 21-25 de maio).

Dom Cagliero viveu totalmente na perspectiva do “Da mihi animas”. Como viver hoje essa paixão?

O ‘Da mihi animas’ de Dom Bosco foi o motor e a base de todas as atividades que Dom Cagliero pôde realizar como Pastor da Igreja Particular do Vicariato Apostólico da Patagônia, em terras argentinas, onde com um zelo exemplar, como filho de um grande sonhador, Dom Bosco, se preocupou por animar, cuidar e projetar a difusão do Reino de Deus, com o estilo do carisma salesiano.

Estou certo de que, como Bispo, cada um deveria ter uma motivação que o levasse a empreender muitas iniciativas para a maior glória de Deus. Mas a chave está no ‘Da mihi animas’ do nosso Pai e Fundador Dom Bosco, o qual nos recorda que tudo deve tender à salvação das almas e que não se pode empreender qualquer iniciativa se essa não tiver como objetivo primeiro a salvação integral do homem.

Como atualizar para hoje, em sua diocese, o empenho pelo desenvolvimento das populações como o fazia Dom Cagliero?

A solicitude pelo desenvolvimento das populações pode-se atuar hoje no Vicariato, mediante uma  experiência profunda e simples de Vida cristã, na qual pulse em nós, como Pastores, a caridade: mas uma caridade que tenha as características salesianas. Da caridade pastoral, p. exemplo. Na qual, o zelo por tornar conhecido Jesus Cristo e o seu Reino nos leve a procurar a salvação das almas; e se manifeste na caridade educativa, porque, não há dúvidas: ela encontra na educação o recurso que nos permite ajudar os jovens a desenvolver as suas energias para o bem (sempre que nos preocupemos em formar em todos os fiéis o desejo de ser honestos cidadãos e bons cristãos neste mundo e futuros habitantes do céu.

Em síntese, poderíamos dizer que devemos ser TOTALMENTE DE CRISTO para poder-nos doar sem restrições à missão. É que sem o amor convicto nAquele em que depositamos a nossa confiança, muito pouco ou nada poderemos avançar em nossa vida espiritual e em nosso trabalho – elementos chaves para o melhoramento do nosso mundo. E a chave para ser totalmente de Cristo necessariamente está em nossa interioridade, nutrida cada dia pela vida de oração, pela direção espiritual, pela vida comunitária e, naturalmente, pela experiência concreta de cada dia e pela caridade.

Dom Cagliero era um filho da primeira geração. Qual julga lhe fosse a marca principal assimilada no Oratório de Valdocco?

Não há dúvidas, que Dom Cagliero manteve no coração e em sua mente o estilo ‘oratoriano’ que o nosso Pai Dom Bosco lhe havia infundido desde o início da sua Obra. Ter CORAÇÃO ORATORIANO pode sintetizar-se em viver e fazer experiência do Oratório

- como de uma GRANDE CASA: onde me sinto amado, respeitado, levado em consideração, com as minhas luzes e sombras;

- como uma GRANDE IGREJA: onde posso apreciar todo o bem que Deus me concedeu e dar graças por isso mediante a experiência de uma oração simples, profunda, plena de devoção, e de amor por esse Deus que tanto fez por nós;

- como uma GRANDE ESCOLA, onde se aprende para a vida e se melhora como pessoas, construindo um mundo mais justo e adequado para todos;

- e, enfim, como um GRANDE PÁTIO, onde a alegria brota do mais profundo do nosso ser, naquele contato com os outros através do recreio e da oração, e que se manifesta pela própria atitude com os outros.

Hoje, ao invés, é possível a um Bispo salesiano manter essa ligação com o coração de Dom Bosco?

Um salesiano bispo pode sim manter esse liame com o coração de Dom Bosco, na medida em que ele procure ser fiel àquela espiritualidade que pôde viver na formação inicial e em seguida no trabalho pastoral, visto que a espiritualidade salesiana é muito concreta e acessível a todos os âmbitos e a todas as classes sociais, e visto que a espiritualidade salesiana conjuga dois elementos chaves: a interioridade e o ímpeto para o social.

Essa combinação dá prioridade a diversos elementos, quais, p. ex.:

1. a alegria, como expressão exterior da felicidade que experimentamos em estar bem com Deus, com os outros e com nós mesmos;
2. a amizade, como presente da própria pessoa e acolhida incondicional ao/do outro;
3. a vida cotidiana, como o lugar mais adaptado que Deus nos oferece para encontrar-nos com Ele, e assim crescer e realizar-nos como pessoas;
4. Jesus Ressuscitado, companheiro de caminhada e ponto de referência, com o Qual somos chamados a estabelecer um relacionamento profundo, através da Palavra, da Oração e dos Sacramentos, em particular da Reconciliação e da Eucaristia;
5. a Igreja como comunidade, feita por todos aqueles que vivem no estilo de Jesus, e que a tornam real sendo membros ativos e responsáveis;
6. Maria Auxiliadora, Mulher cheia de vida, primeira Crente, que colabora com Jesus Cristo na obra de salvação e que nos encoraja e ajuda como Mãe e Mestra;
7. o zelo, entendido como responsabilidade em assumir o próprio dever e colaborar na construção de uma sociedade mais humana e justa, à luz dos Valores do Evangelho, com uma predileção pelos Jovens mais pobres;

Que significa hoje ser um Bispo com coração salesiano?

Para mim significa:

• Ser o Bom Pastor, que dá a vida por sua Ovelhas. Ovelhas que ele conhece e busca.
• Ser um homem de Deus, sempre vigilante acerca de quanto possa acontecer; fiel à Igreja; sobretudo profundamente espiritual, a fim de contagiar os seus Sacerdotes e Fiéis.
• Possuir um grande amor pela Mãe de Deus e dos homens, Maria.
• Possuir um grande zelo apostólico: seu lema seja “Da minhi animas, cetera tolle”.

Publicado em 30/04/2015