(ANS – Luanda) – O P. Santiago Boix, salesiano uruguaio, recebeu o mandato missionário no dia 25 de setembro último, mas já estava na Capital de Angola desde 2009. Agora que para ali voltou raconta algumas experiências que o enriqueceram.

Ele foi mandado a um dos bairros mais pobres e violentos de Luanda: não por nada se chama “Lixeira”. Seu olhar entretanto vai para além do primeiro impacto: “Quando aos missionários da África se pede falar da missão, com freqüência só se descreve o que fazemos, a pobreza, as dificuldades... Quero começar com algo diferente, algo que poderíamos chamar «A escola de vida»”.

Nessa escola o missionário aprendeu algumas lições. A primeira foi logo que chegou. Os meninos o convidaram para ir ao campo de basquete e lhe disseram que queriam algumas coisas dele. “Logo pensei que quisessem uma bola nova, um treinador – admite o P. Boix –. Mas nada disso: ‘Temos – disseram – necessidade de um diretor espiritual, de alguém que fique conosco e que anime a nossa fé. Queremos que seja o senhor’. Aprendi então a primeira lição: o primeiro lugar, no coração, é para Deus; e a minha missão era caminhar junto com os jovens sobre os passos de Jesus. O resto seria secundário”.

A segunda veio logo depois, quando alguns animadores voltaram tristes à obra, porque tinham sido mandados embora de uma casa de brancos na hora do almoço. “Compreendi que nesta escola há sempre um lugar para uma pessoa ou duas ou também para mais 10! A família é muito mais que os laços de sangue ou dos vínculos... A solidariedade, a hospitalidade, o cuidado pelos outros são coisas naturais que, infelizmente, em nossa cultura, temos esquecido, porque nos protegemos com portões e alarmes. Esta era a lição da solidariedade entre os pobres, dos amigos de Jesus”.

A terceira, dentre muitas, refere-se ao uso do tempo. Viera certa vez uma mulher pedir ao P. Boix fosse abençoar seu filho doente, que ficara em casa. O P. Boix havia já assumido muitos empenhos, mas foi assim mesmo, porque a mulher lhe disse que a casa era muito... perto. “Na realidade ficava muito longe. Mas longe só para mim, que me preocupava com os meus afazeres e não com a caridade. Depois de muito tempo, chegamos: rezamos e tudo foi muito bom. De ali passei a outra casa. Depois a outra... Aprendi que Jesus precisa ser cuidado nos enfermos (...) e que por vezes corremos atrás do que não é importante”.

“Lixeira – conclui o P. Boix – é uma grande escola de vida, onde Deus está presente realmente de modo muito claro. E penso que muitas pessoas sejam santas, muitos jovens especialmente, ainda que nunca os ponham nos altares ou não lhes dediquem santinhos. (...) Assim, nesta escola estou aprendendo que as coisas essenciais na vida são poucas; que a felicidade está no pouco; ou melhor, é uma coisa só: Jesus Cristo. Já o sabia antes, mas agora, aqui, na ‘lixeira’, com eles, sinto-o, experimento-o. E disso usufruo de modo infinito: até quando Deus mo conceder”.

Em ANSChannel, um vídeo, em que o missionário reconta a história da sua vocação.

Publicado em 25/10/2011