(ANS – Freetown) – Publicamos hoje a segunda parte da entrevista concedida pelo Salesiano Irmão, Sr. Lothar Wagner à revista “Político”; a primeira foi publicada ontem.
O que implica a epidemia do ebola em seu trabalho cotidiano?
Implica em que, com todo o nosso pessoal, nos estamos preparando com muito cuidado. Mais que nunca devemos ser atentíssimos observadores: ver como se comportam as crianças; estão apenas dormindo num assento ou, diferentemente, estão com febre e, portanto, doentes? Controlamos sua temperatura a cada três horas. No momento também os procedimentos de admissão às casas exigem mais tempo, visto que documentamos toda a sua história médica e registramos todas as zonas em que o menor viveu nas três semanas precedentes. São muitos os órfãos e crianças doentes recebidos. Em nossa linha de crise, além disso, o número de chamadas quadruplicou. No momento predominam quase que exclusivamente entrevistas de crise, que tomam o dobro do tempo de consultoria.
Como se sente pessoalmente?
Muito bem. Por quanto se refere à minha saúde física e mental não posso me queixar. Tem sentido estar aqui, no ‘front’, neste momento, ainda que com frequência pareça não ter um... sentido. Mas muitas coisas são ambivalentes na vida e na Fé. (…)
Como se enfrenta o medo?
Sou exímio em liquidá-lo (ri-se). O medo só aparece quando há um caso suspeito em nosso instituto. E isto se deu duas vezes. Em tal caso, tudo deve funcionar sem problemas. Isolamento imediato, terapia, chamada dos médicos: e se a criança não for transportada logo, começo a me agirar, a torturar-me com perguntas, como, p. ex., se estamos protegendo suficientemente desses casos as outras crianças e o pessoal... Porque não podemos fechar agora. Há, pois, muitos dilemas de natureza ética que se devem enfrentar.
Que papel têm Deus e a Fé nesse contexto?
Sem Deus e a minha relação com Ele, eu por certo não estaria aqui: quem sabe, me esconderia em meu escritório para cuidar da logística em meu computador, para silenciar a consciência. Entretanto, nunca me senti tão feliz de viver aqui e agora. Sim, estou feliz. Os encontros cotidianos com as crianças e os jovens são para mim encontros com Cristo: estou na Via-Sacra do nosso tempo; ofereço o pano da Verônica; ajudo a levar a Cruz... Agora são as crianças que atualizam Cristo em minha vida. Através delas e de Jesus Cristo, sei que a minha vida não acabará com a Crocifixão. Celebraremos a Páscoa.
Que desejaria dizer ao Ocidente?
Há uma grande simpatia por entre as pessoas e há também uma solidariedade global. Isto me dá a força de continuar. Só na Alemanha se ofereceram como voluntários 5.000 soldados e civis: é impressionante! Agora o Governo alemão deve dar imediatamente a esses voluntários a oportunidade de ajudar aqui ‘in loco’. Mas simplesmente se perde demasiado tempo e os Governos ocidentais continuam a... hesitar.
Então vai aqui o meu APELO: urge mandar-nos ‘hospitais-móveis’ com um total de pelo menos 5.000 lugares-leitos, laboratórios, especialistas epidemiológicos, médicos, enfermeiros. É que é este o momento de se impedir uma epidemia... global!
Publicado em 22/10/2014