(ANS – Roma) – A Exortação Apostólica ‘Evangelii Gaudium’, do Papa Francisco, oferece muitíssimos tópicos para a reflexão de todos e de cada um dos cristãos. Pedimos ao Conselheiro Geral para as Missões salesianas, P. Václav Klement, que nos fizesse uma leitura missionária.

Que significa para os salesianos o apelo à “transformação missionária” da Igreja, de que fala a ‘Evangelii Gaudium’?

Significa levar a sério o sinal de ‘sair’ não só de nós mesmos mas também de ir até aos “extremos confins da terra”.O mandado missionário de Jesus nos pede construir uma ‘Igreja em estado de missão’, um sonho compartilhado faz já 60 anos pelo Cardeal Léon-Joseph Suenens e por outros protagonistas do Vaticano II. Para uma Congregação espalhada por 133 países do mundo, é um convite importante a manter o fluxo missionário ‘de’ todos os continentes ‘para’ todos os continentes da Terra. Não se trata tão somente de mandar 40 missionários 'ad gentes' todos os anos mas também de formar todos os salesianos a saberem proclamar e testemunhar o Evangelho a todos os Jovens, onde quer que estes estejam.

Como contribui a ‘Evangelii Gaudium’ à missionariedade da Igreja?

A 50 anos do Vaticano II, a missão, na mente de muitos, parece apenas ser alguma coisa que “se vai somando ao tudo mais” e que valha somente “para alguém”. Não foi fácil aceitar a orientação principal do Vaticano II – indicada por textos como a ‘Lumen Gentium’, a ‘Gaudium et Spes’, o ‘Ad gentes’ – que a Igreja é “missionária por sua própria natureza” e tudo nEla se volta para fora. A exortação do Papa Francisco ajuda-nos a formar-nos na espiritualidade de discípulos missionários (cap. 5) e a crescer na visão integral da vida eclesial missionária. Por coincidência da graça, acolhi-a em Maracaibo (Venezuela), durante o IV Congresso Missionário Americano – IX Congresso Missionário Latino-Americano.

Que tema missionário da ‘Evangelii Gaudium’ impressionou-o especialmente?

Certamente o modo de considerar e juntar toda a humanidade numa como só família, com mui intenso acento comunitário, que põe o tema do diálogo, ou melhor, ‘do encontro’ inter-religioso sob novo enfoque. E o vemos inserido no contexto da dimensão social da evangelização (cap. 4). A experiência da ‘missio ad gentes’ especialmente em países quase totalmente não-cristãos confirma-o. Dom Bosco parece ser bem-vindo em todos os variados ambientes pluriculturais e plurirreligiosos. E nós devemos viver como amigos com todos os irmãos e irmãs vizinhos. É um primeiro passo.

A EG marca o início do serviço petrino do Papa Francisco como já aconteceu aos seus predecessores?

Com a Eucaristia de Quinta-Feira Santa na prisão para menores em Roma e a sua primeira saída a Lampedusa, o Papa Francisco já deu antes de tudo, com seus gestos, um forte empurrão missionário. E só ‘depois’ veio a ‘Evangelii Gaudium’. Isto faz com que o Papa Francisco se torne a mensagem e nos explique a Exortação com a vida.  Pessoalmente, no conjunto do texto, aprecio especialmente as passagens sobre a espiritualidade missionária: explícitos (n. 78-80 e n. 262-283) e, sobretudo, implícitos – fruto maduro e testemunho de uma vida realmente missionária do Bispo de Roma, vindo “de quase do fim do mundo”.

Publicado em 19/12/2013