(ANS – Freetown) – “Órfãos do ebola na África: conhecer o trabalho sacrificado dos Salesianos”: eis o título do artigo de Blanca Ruiz, publicado pela Agência “Aciprensa”, no qual o P. Jorge Crisafulli, Superior dos Salesianos na África Ocidental Anglófona, raconta em qual situação estejam os Salesianos e os jovens que se ocupam do Centro para órfãos...

“O governo de Serra Leoa já nos conhecia pelo trabalho que fazemos com os meninos-soldados e pediu o nosso auxílio também para esta conjuntura. Pensávamos que se trataria de 30/40 crianças. Depois do primeiro mês nos demos conta de que os números eram muito maiores. Agora temos um refúgio para 120 órfãos de ebola” – explica o P. Crisafulli.

Com o auxílio de organizações estrangeiras como 'Manos Unidas' (Mãos unidas), os Salesianos de Serra Leoa transformaram uma escola num orfanato bem especial. Porque, tratando-se de crianças que estiveram em contato com pessoas infectadas pelo ebola, as precauções e a higiene são extremamente rigorosas: um erro ou um descuido podem ser fatais.

“Cada criança tem uma sua maçaneta para abrir a água do seu chuveiro, a fim de que ninguém toque o que já foi tocado. Trabalhamos com crianças que chegam aqui com um certificado ‘Ebola Free’, isto é, que não estão contagiadas. Mas devemos seguir um protocolo bem rígido, porque basta um só erro para acabar contagiado” – explica o Inspetor.

Alguns desses certificados – sublinha o salesiano – são falsos. Assim todas as crianças que chegam ao refúgio dos Salesianos são submetidas a um período de quarantena na assim chamada ‘Zona A’: uma tenda em que os jovenzinhos ficam isolados dos mais, tenda que pode sediar 60 pessoas das 120 totais do Centro.

Explica o P. Crisafulli: “Visto que o vírus tem um período de incubação de 21 dias, pensa-se às vezes que ainda não se esteja contagiado: quiçá simplesmente os sintomas ainda não se tenham manifestado. Todos os pequenos que aqui chegam, de qualquer povoado venham, passam por esse período de quarantena, assistidos por enfermeiros que sobreviveram ao vírus (....). Na Zona A, mede-se a temperatura cada três horas, durante todos os 21 dias em que os pequenos ficam ali, para registrar desde o primeiro momento qualquer mudança se dê”.

Os meninos que chegam ao centro dos Salesianos vêm sozinhos, porque o ebola os privou de tudo. Pais, irmãos, irmãs...: morreram pelo vírus. Entretanto, o objetivo dos Salesianos é reintegrá-los em suas famílias estendidas: com tios, com avós, a fim de que cuidem deles. “Temos assistentes sociais e voluntários da Serra Leoa que quando uma criança nos chega aqui e fica comprovado que é sadia, vão ao seu povoado de origem para achar alguém da sua família estendida, a fim de que a criança possa voltar para eles”.

Mas nem sempre isto é possível: ou porque ninguém sobreviveu ou porque – ouçam isto – as suas famílias não querem assumir o cuidado do pequeno: “Um dos graves problemas de que recentemente nos demos conta é que por vezes a família ampliada os não quer porque... desejam ficar com as terras dos seus pais mortos, mas que pertencem à criança supérstite. Assim se recusam: dizem que é um bruxo/a e que foi por sua culpa que a sua família morreu, a fim de ficar-se com as terras do menino. Foi por isso que assumimos alguns advogados a fim de que cuidem desses problemas e essas crianças tenham um seu futuro”.

O P. Crisafulli conclui falando das “famílias substitutas” que acolhem as crianças; da sua formação no Centro, através de música, a dança, os brinquedos, para distraí-los da sua situação; e de uma iniciação às atividades agrícolas, que serve para responsabilizá-los. Adverte enfim acerca da necessidade de “trabalhar juntos contra as raízes da pobreza, que são: a ignorância, a falta de educação, a corrupção. Abramos os olhos e os ouvidos. Sintamo-nos corresponsáveis”.

Publicado em 12/02/2015